Materia feita na data de 28/01/2020, Autor: Leonardo Silva
No final da década de 80, os jogos do gênero beat ‘em up, mais conhecidos como “briga de rua” faziam grande sucesso entre molecada nas casas de arcade. Tínhamos alguns tantos jogos, tais como Renegade, Crime Fighter, Double Dragon, Dj Boy, todos jogos bem adorados pelos jogadores. Bem parecidos na sua essência, mas com um ou outro elemento que os diferenciasse. Em 1989 sai para arcade aquele que inovaria o gênero e o influenciaria até hoje. Este game é Final Fight, que chegou a ser primeira posição em nosso Top 10 sobre jogos de briga de rua dos fliperamas.
Final Fight marca a entrada dos briga de rua na década de 90, trazendo gráficos maiores e mais bonitos que seus antecessores, sons com maior qualidade, uma quantidade gigantesca de inimigos na tela, e muita porradaria. Tudo isso proporcionado pela placa CPS1, que teria sido lançada um ano antes de Final Fight e introduziu os jogos da Capcom em uma nova era. Final Fight viria a influenciar grandes títulos que vimos na década de 90, tais como Captain Commando, Cadillac and Dinosaurs, The Punisher e muitos outros.
Enredo
Metro City, uma cidade marcada pela violência originaria das violentas gangues que permeiam a cidade, ganha um novo prefeito, que promete acabar com o caos, levando embora as gangues de Metro City. Seu nome é Mike Haggar, renomado lutador de wrestling, que agora, pretende trocar o ringue pela luta institucional. Tudo ia bem, quando o mesmo recebe o telefonema da maior gangue da cidade, a Mad Gear, que raptam sua filha, Jessica, como uma forma de mantê-lo sobre controle. O prefeito Haggar fica revoltado com a Mad Gear e resolve encarar a gangue com as próprias mãos, contando com a ajuda do namorado de sua filha, Cody Travers, e seu amigo, Guy. Juntos, eles vão percorrer toda a cidade, com o propósito de salvar Jessica e por um fim as atividades da gangue.
Personagens
Final Fight foi um dos primeiros jogos a trazer características próprias para cada personagem, com seus pontos altos e baixos, algo não tão comum na eṕoca, pois a maioria dos outros jogos do gênero traziam dois ou três personagens, onde um era simplesmente a copia do outro, mudando apenas a palheta de cores, exemplo disso é Double Dragon. Isso fazia com que um determinado jogador se saísse muito bem com um personagem, e com outro não se saísse tão bem assim e muitas vezes perdendo alguma vida por um descuido besta. Os personagens são os seguintes:
Mike Haggar: O prefeito de Metro City e ex wrestler. Haggar é o tipo de lutador “força bruta” do jogo, seu soco tem um alcance longo e seus golpes são os que tiram mais dano, mas ele é mais lento que os outros dois personagens selecionáveis. Tem como habilidade exclusiva, quando agarrar o oponente, poder pular e dar o “pilão”, golpe de agarrão que tira bastante dano do oponente, e pode atingir outros se o pulo com o pilão cair próximo. Haggar foi o primeiro personagem de Final Fight a aparecer em outro jogo, no caso, Saturday Night Slam Masters. Mike Haggar serviu de inspiração para outros personagens de jogos de luta, que também tem como característica agarrar o oponente, exemplo disso é Zangief.
Cody Travers: Cody é o típico protagonista, que tem todos os atributos balanceados, sendo muitas vezes o preferido da galera. Cody tem socos relativamente fortes e rápidos e seu pulo e chute, corriqueiramente usado para atacar o maior número de oponentes possíveis enquanto se move, é o mais longo (levando-se em conta apenas os pulos simples). Cody é especialista em luta com facas, e portanto, é o personagem que mais consegue permanecer com facas e outras armas durante o jogo. Assim como Haggar, Cody também influenciou a criação de outros personagens, sendo o mais notório, Axel Stone, de Streets of Rage (Bare Knuckle), da concorrente Sega.
Guy: Guy é o ninja do grupo, tendo como maior atribulo, sua velocidade. Guy tem socos muito rápidos, mais que causam pouco dano no oponente, no entanto, consegue se recuperar de um golpe um pouco mais rápido do que seus amigos. Guy é o único que consegue pular no canto da tela e “tabelar” fazendo com que seu pulo e chute tenham um alcance maior, mesmo que as pernas dele sejam menores do que as de Cody. Guy foi o primeiro personagem de Final Fight a aparecer como personagem jogável em algum jogo da série Street Fighter, mas precisamente Street Fighter Alpha/Zero.
Jogabilidade
Bem, se vamos falar sobre jogos antigos, e de se imaginar que sejam bem difíceis e com Final Fight não era diferente, pois o jogo foi feito para comer fichas VALENDO, de seus jogadores. Final Fight tinha jogabilidade levemente travada, isso ficava notório no tempo de recuperação dos nossos personagens quando levavam algum golpe, sendo a deixa perfeita para que os outros oponentes os cerquem e tirem quantidade de vida consideravelmente grande, motivos de muitos palavrões na hora do quebra pau. Essa “facilidade” em levar golpes, associada a quantidade de oponentes na tela (e um tal de Hugo Andore) era a sua marca registrada em relação a dificuldade.
Outra questão quanto a jogabilidade que podemos citar são a quantidade pequena de golpes que os personagens tem. Nossos lutadores fazem o básico, que é socar, pular um pulo simples (exceto Guy) e atacar, podem também atacar com alguma arma que achamos no meio do caminho, enquanto nossos oponentes fazem saltos que podem ir de um ponto da tela a outro, soltar bombas, correr, segurar e dar “pilão” (Haggar também faz), levando um sangue absurdo do nosso personagem. Outros jogos lançados pouco tempo depois, por exemplo, Captain Commando, que foi feito em 1991 também pela Capcom, já tinha as mecânicas de correr e golpear, no entanto, são quase dois anos de diferença, e levando-se em consideração que o primeiro influenciou o segundo, tanto nas mecânicas quanto na própria história, é algo compreensível.
Curiosidades
Continuação de Street Fighter: O primeiro Street Fighter fez um certo sucesso nos arcades, trazendo uma nova jogabilidade, com combinações de movimentos que faziam o personagem dar golpes especiais que causavam muito dano ao oponente, e trazia botões de soco e de chute que dependiam da pressão exercida sobre eles para dar mais, ou menos impacto. Muitas pessoas gostaram, no entanto, outras acharam bem confuso. A Capcom então, divida entre a questão de fazer ou não uma continuação desse game, decide lançar uma sequencia, só que aos moldes dos jogos que mais faziam sucesso na época, que eram os beat ‘em ups, daí surge o grandioso … “Street Fighter 89”, ao menos esse era o nome inicial de Final Fight, que pouco tempo depois foi batizado com o nome que conhecemos hoje. Devido a grande diferença entre os dois games, a Capcom, acertadamente, decidiu trocar o nome da franquia, dando um rumo próprio para a mesma.
Inspirado em um filme: Final Fight é um daqueles clássicos jogos onde devemos enfrentar um monte de desafios para salvarmos a donzela em perigo, igualmente a maioria dos beat ‘em ups da época, mas Final Fight bebe muito de um filme chamado Streets of fire, ou, “Ruas de fogo” em tradução, onde uma garota é raptada por uma gangue de motociclistas, e seu ex namorado vai de encontro a gangue para destruí-la e resgatar a garota. Além da história clichê, vários elementos da estética do filme são encontrados pelos estágios e todo o jogo. Impossível negar a semelhança entre o protagonista do filme, Tom Cody, e personagem jogável Cody Travers, até o nome é igual.
Pegando carona no mundo pop: Talvez para muitos jogadores na época tenha passado despercebido mas muitos dos personagens de Final Fight tem nomes ou elementos que lembram a cultura pop do momento. Além das referencias ao filme “Streets of fire”, Final Fight também guarda muita referencias as bandas de rock da época. Dois dos vilões que aparecem corriqueiramente no jogo tem o nome de Axl e Slash, vocalista e guitarrista da banda Guns ‘n Roses, que teve seu estouro no mainstream por volta da época do lançamento do jogo, outra grande referencia é o personagem chamado Poison, apresentado como um transexual. Poison faz referencia a banda de glam metal de mesmo nome, conhecida por usar maquiagens fortes e um visual bem andrógeno. Mas a cereja do bolo fica para o grande apelão do jogo, Hugo Andore, que foi baseado (leia-se, copiado) em Andre the giant, André “o gigante”, lutador de wrestler que ganhou notoriedade, obviamente pelo seu tamanho. Aliás, o próprio nome "Andore", vem da pronuncia errrada dos japoneses, pois não conseguiam pronunciar o nome "André" direito.
Sequencias e Portes
Final Fight teve porte para o Super Nintendo, e foi nessa plataforma que o jogo mais se “identificou”, pois suas duas sequencias ganharam vida apenas nesse console. Final Fight também ganhou uma versão na eṕoca para o quase finado Nintendo/Famicom, chamada de Mighty Final Fight, um jogo feito bem com a cara do nintendinho, com personagens estilo “Mini” onde a movimentação é bem fluida, sendo muito querida pelos jogadores do console até hoje. Mais tarde, Final Fight também ganhou uma versão para o Sega Cd, bem mais polida.
Mais tarde, em 1999, Final Fight ganha uma nova versão para o Playstation, chamada de Final Fight Revenge, um jogo de luta mano a mano em formato 3D que não fez tanto sucesso assim. Alguns anos mais tarde, já no Playstation 2, ganha mais um jogo para série intitulado de Final Fight: Streetwise, este voltando a ser um beat ‘em up, só que em 3D, contando como protagonista, o irmão de Cody, Kyle, lutando para encontrar seu irmão enquanto elimina os distribuidores de uma droga que está tomando conta da cidade. Streetwise não caiu nas graças do público.
Considerações
Final Fight é sem dúvidas, um dos jogos mais marcantes que a Capcom já produziu. Apesar de não existir nenhum previsão de aparecer um novo jogo da franquia, o seus personagens ainda aparecem em outros grandes títulos, mais especificamente na franquia Street Fighter, a qual compartilham o mesmo universo. Guy e Cody já apareceram em vários jogos da franquia, sendo o ultimo, Street Fighter 5. Por sua vez, Haggar nunca apareceu em nenhum jogo de Street Fighter, justamente por seus golpes serem muito semelhantes aos de Zangief (ou seria o contrário?), mas o mesmo deu as caras em Ultimate Marvel vs Capcom 3. Ainda podemos matar a saudade desse clássico com o pacote de jogos beat ‘em up que a Capcom lançou em meados de setembro de 2018, e aguardar que a empresa resolva lançar alguma continuação da série em algum momento.
No entanto, temos que entender que fazer um novo jogo para um gênero tão clássico, muitas vezes pode despertar a irá e a insatisfação com relação ao público, e a Capcom já passou por isso algumas boas vezes. É o caso de Bionic Commando, que foi lançado para nintedinho e teve certo sucesso, mas quando foi lançado uma nova versão em ambiente totalmente 3D, em 2013 para plataforma da 7º geração, não teve uma recepção muito boa. Outro caso já citado foi o de Streetwise. Então, é melhor que a Capcom faça tudo com calma, e se não tiver como trazer algo que inclua tanto os antigos fãs, como também tenha a possibilidade de trazer novos, melhor não fazer.
Até a próxima matéria