Você é dono do seu jogo?

Você é dono do seu jogo?

Materia feita na data de 26/04/2024, Autor: Leonardo Silva

Todo jogo tem meio que um ciclo de vida, no qual ele é anunciado e pode “entrar no hype”, quer dizer, vai se especulando o que ele tem de bom, acaba sendo muito procurado e fica em destaque. Tem o momento em que ele vai esfriando e vai tendo uma media fixa de número de jogadores, e vai recebendo vez ou outra, alguma atualização para manter os jogadores e atrair mais, ao mesmo tempo vai-se aumentando esse tempo de sobrevida do jogo. E existe o momento em que o jogo “vai morrendo”, ou seja, a desenvolvedora deixa de fazer atualizações, mesmo que periódicas para o jogo, seja porque já tem um novo título do jogo disponível e quer que os jogadores migrem para o novo game, ou porque a procura por esse game atingiu um nível muito baixo e de alguma forma está ficando mais caro para a empresa mantê-lo atualizado e disponível, do que deixar de tentar fazer ainda alguma grana com ele. Nesse último caso, além de pesar a questão das atualizações, existe também a questão dos servidores do game, para aqueles jogos que tem algum gameplay online, jogos singleplay e / ou com conteúdo offline, costumam sofrer pouco com essa questão, já que mesmo sem atualizações ainda será possível jogá-lo offline, o problema fica mesmo para aquele jogos que são inteiramente online, que foi o acontecido a pouco tempo, com o jogo “The Crew”.

The Crew é uma série de jogos de corrida em mundo aberto, que funciona exclusivamente online. O primeiro game foi lançado em dezembro de 2014 e antes de completar 10 anos, teve seus servidores desativados, e obviamente ficou injogável, uma vez que o jogos não tem conteúdo offline. O jogo já vinha com um número muito baixo de jogadores e por já ter dois títulos lançados após esse, já seria de imaginar que em algum momento ele iria “ser morto” pela Ubisoft, sua desenvolvedora e publicadora, no entanto, a Ubisoft foi além, removendo o título, não só para a venda nas lojas, o que não teria problema algum, mas também removeu das contas dos usuários, o que os deixou revoltados com a empresa e acabou acendendo um debate que volta e meia vem a tona: O jogo que você compra, de fato, é seu?

The Crew era um game de corrida exclusivamente online e teve seus servidores desligados a pouco tempo
The Crew era um game de corrida exclusivamente online e teve seus servidores desligados a pouco tempo

Antigamente, quando comprávamos os Cartuchos / Fitas, Cds ou Dvds, era só colocar a mídia no console, ligar e jogar. Podíamos fazer limitações impostas por alguma empresa, e sem prazo de validade, a não ser os das próprias peças do console e dá mídia dos jogo, vindas do desgaste natural. Esse cenário começa a mudar quando por volta da 7º geração dos consoles começam a abraçar de vez todos os benefícios que a internet tem pra oferecer. Nessa geração, os jogos passam também a poder ser comprados em lojas online, e se popularizam as vendas de DLC, os famosos “Conteúdos baixáveis”, que passariam a evitar cada vez mais, práticas comuns entre algumas desenvolvedoras, principalmente nos anos 90, que era a de lançar um jogo num ano, e na média de 12 messes depois, lançar o mesmo jogo com mais personagens, estágios e itens extras (leia-se Street Fighter 2 e Mortal Kombat 3, Marvel vs Capcom 3 srsrsrsr), deixando a versão que o jogador tinha compra anteriormente, defasada em pouquíssimo tempo. Como tudo na vida, os recursos online acabaram por trazer alguns pontos negativos, tais como o calvário da mídia física, pois por mais que a mesma tenha seu público fiel, ela se torna um produto mais caro para as distribuidoras em comparação a mídia digital. Outro ponto negativo, trazido pela gradativa integração com a internet, foi o aumento de controle por parte das desenvolvedoras com relação aos seus jogos, fazendo com que a mesma possam entregar um jogo num estado ruim de desenvolvimento, e consertar depois, lançar um jogo desbalanceado para que seja corrigido depois, lançar personagens de DLC mais fortes que os personagens que já vem no jogo, para que certo jogadores se sintam compelidos a comprar. Ou seja, prometem um grande jogo, entregam o jogo inacabado para terminá-lo depois, e terminam ... SE acharem que vale a pena, se ainda houver interesse por parte deles em dar longevidade ao game, e isso era algo que eles não conseguam controlar, ou entregam o jogo pronto ou simplesmente o jogo não vende.

Asuras Wrath foi um jogo vendido sem o final canonico, que tinha ser obtido via DLC
Asuras Wrath foi um jogo vendido sem o final canonico, que tinha ser obtido via DLC

Na verdade, são muitas as formas de controle que as desenvolvedoras passaram a exercer no seus jogos com o advento da internet, e uma delas cominou justamente nesse episódio causado pela Ubisoft, que por sinal é bem grave, pois ao remover um jogo da conta de um jogador que PAGOU por ele, ela passa a mensagem que, se ela decidir que outro jogo deve “morrer”, o mesmo também será removido das contas do usuário e no final do dia, quem manda no seu jogo é a Ubisoft. Voltando ao caso especifico do game “The Crew”, alguns falam que a Ubisoft deveria ter feito um modo offline para o game antes de desligar os servidores e não remover das contas dos usuários, no entanto, essa solução seria “inviável” para a Ubi, justamente por ela já ter dois jogos posteriores da franquia em pleno funcionamento, além do fato da mesma deixar evidente não querer mais ter custo com o game descontemplar mais gastos. A única coisa que a empresa poderia ter feito era apenas deixar o jogo disponível, ISSO MESMO, mesmo que não tivesse mais como jogar pelas vias normais. Deixá-lo na conta dos usuário, permitindo que os mesmo possam fazer seus próprios servidores e organizar suas próprias jogatinas, com certeza seria uma medida mais popular do que retirar da conta do usuário, algo que ele já pagou.

No entanto, talvez o intuito da Ubi seja de fato esse, testar até onde vai a resistência dos usuários aos termo de contrato usando como cobaia um jogo relativamente antigo, e aí que está a bronca. Caso a tolerância dos jogadores que compraram esse game seja grande e não corram “atrás o suficiente”, essa prática correrá o risco de ser aplicada em massa pelas desenvolvedoras em geral.







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